
O tempo
que nos resta

Prólogo
A pesada porta de aço se abriu, movida pelo motor barulhento, que se calou segundos depois. O garoto parou diante da porta recém-aberta. A sua frente, a claridade formava uma verdadeira cortina, na qual minúsculos flocos de poeira dançavam. O lugar parecia uma prisão. De certa forma, não passava de uma, só que ali não eram apenas grades ou correntes que faziam prisioneiros. Algo muito mais sombrio pairava no ar, aderia ao corpo e sufocava.
O garoto mergulhou no corredor mal iluminado, envolvido pelas vozes que pertenciam às criaturas além das inúmeras portas de aço, sussurros e murmúrios desconexos na maioria, mas também muito choro. Tudo ali se resumia a medo e dor. Ele parou. Número vinte e três... Como chamar aquilo: quarto, cela? Era a única porta da qual nenhum som emanava. Só havia silêncio ali. Era o lugar certo. Vagarosamente, o garoto girou a maçaneta e, depois de um último momento de decisão, entrou.
Do outro lado, a escuridão o aguardava...
